Início - Blog - Mundo Agro - Agronegócio Precisa Redobrar Gestão de Riscos, Alerta Especialista
O coordenador do Insper Global Agribusiness Center, Marcos Jank, afirmou que a administração de riscos tornou-se questão central para o agronegócio brasileiro diante da crescente instabilidade política e comercial no mundo. Com quatro décadas de atuação no setor, o especialista avalia que as regras que sustentaram o comércio agrícola internacional estão sendo revistas “em tempo real” e coloca o Brasil diante da necessidade de se adaptar com rapidez.
Dependência da Ásia e a busca por segurança alimentar
Segundo Jank, a crença de que o planeta “precisa do Brasil para se alimentar” é enganosa. “Nenhum país quer depender de comida importada”, ressaltou. A China, principal compradora de commodities brasileiras, exemplifica esse movimento ao tentar ampliar a produção interna e diversificar fornecedores, mantendo a autossuficiência em arroz e trigo e reduzindo a dependência externa de soja.
Dados citados pelo pesquisador mostram que dois terços das exportações agrícolas brasileiras têm como destino a Ásia, sendo a China responsável por pouco mais de um terço desse total. A região abriga mais de 50% da população mundial, mas possui apenas 20% dos recursos naturais, o que, na visão de Jank, reforça a importância de países como o Brasil no fornecimento de alimentos.
Novo cenário de “desordem internacional”
Para Jank, instituições multilaterais criadas após a Segunda Guerra, como a Organização Mundial do Comércio, enfrentam perda de eficácia. “É como jogar futebol sem regra, sem juiz e sem placar”, comparou. A geopolítica, e não mais a eficiência, passou a conduzir a agenda global, afirmou.
O especialista também atribui à gestão de Donald Trump uma aceleração do protecionismo, citando a elevação temporária de tarifas sobre produtos europeus aos Estados Unidos como exemplo. No caso brasileiro, Jank destacou que questões comerciais se misturaram a temas políticos e à presença chinesa no país, gerando pressão adicional sobre Brasília.
Impacto limitado das tarifas dos EUA, mas atenção a acordos
As vendas do agro brasileiro aos Estados Unidos somam cerca de US$ 12 bilhões, equivalente a 7% do total exportado pelo setor. O dado reduz a preocupação imediata com eventual aumento de tarifas americanas, mas Jank chamou a atenção para negociações em curso entre Washington e grandes mercados, que podem restringir o espaço de produtos brasileiros.
Imagem: forbes.com.br
Fragmentação global e riscos para o produtor
Jank listou eventos recentes ‑- pandemia, guerra na Ucrânia, tensões no Oriente Médio e extremos climáticos ‑- como exemplos de choques imprevisíveis. “Gestão de risco nunca foi tão importante quanto hoje”, aconselhou. Entre as medidas defendidas estão diversificação de mercados e monitoramento constante de acordos internacionais.
Apesar do cenário incerto, o professor avalia que o avanço tecnológico no campo brasileiro deve prosseguir, impulsionado por bioeconomia, biocombustíveis e integração lavoura-pecuária. Ele, porém, alerta para a necessidade de uma estratégia conjunta entre governo e iniciativa privada para que o país se mantenha competitivo em um ambiente que classifica como multipolar e fragmentado.
Com informações de Forbes Brasil