Início - Blog - Mundo Agro - Desmatamento na Amazônia É Negócio Imobiliário, Diz Secretário
O secretário de Meio Ambiente, Clima e Sustentabilidade do Pará, Raul Protázio, declarou que o desmatamento em larga escala na Amazônia é movido principalmente por especulação fundiária, e não pela produção de carne. “Ninguém abre dois mil hectares pensando em produzir carne. O gado entra para marcar posse; o objetivo real é valorizar a terra e revendê-la”, afirmou.
O Pará abriga 110 mil propriedades pecuárias e um rebanho de 26,7 milhões de bovinos, o maior da Amazônia e o segundo do país. Segundo levantamento da Secretaria, entre agosto de 2024 e julho de 2025 o sistema Deter do Inpe emitiu alertas para 1.325 km² de desmatamento no estado — queda de 21% em relação ao ciclo anterior e o menor volume em dez anos, embora ainda equivalente a quase toda a área da cidade de São Paulo.
Medidas para conter a devastação
- Programa de Pecuária Sustentável do Pará: prevê rastreabilidade individual obrigatória de todo o rebanho, iniciativa inédita para pecuária extensiva.
- Integração CAR-GTA: fazendas sem Cadastro Ambiental Rural regular não podem movimentar animais, dificultando a saída de gado de áreas irregulares.
- Requalificação de produtores: proprietários com passivos ambientais recebem assistência técnica para se adequar, em vez de serem excluídos do mercado.
Protázio defende uma “coalizão” que inclua frigoríficos, bancos, varejo e sociedade civil. Ele cita a China, que ao exigir bois abatidos com até 36 meses impulsionou melhorias rápidas na pecuária paraense.
Visão da indústria
Para Francisco Victor, presidente da Aliança Paraense da Carne, a pecuária hoje opera sob “rigoroso controle sanitário e socioambiental”. Desde 2009, frigoríficos do estado cumprem TACs que proíbem a compra de gado de áreas embargadas ou ligadas a trabalho escravo; mais de 90% dos animais abatidos estariam em conformidade. Ele apoia a rastreabilidade individual: “É arriscado, mas necessário”.
Especialistas veem avanços e desafios
Marina Guyot, do Imaflora, lembra que a produtividade da pecuária brasileira cresceu 172% em 30 anos, enquanto a área de pastagens caiu 6%. Mesmo assim, a abertura de novas áreas segue como principal vetor de desmatamento. Ela defende transparência sobre a origem da carne e inclusão de pequenos e médios produtores na transição.
Paula Bernasconi, da Plataforma Trase, ressalta que a área de pastagens aumentou apenas 4% nos últimos 20 anos, mas o número de animais abatidos dobrou. Para ela, metade do desmatamento ligado à pecuária se concentra em 2% dos municípios produtores, dado crucial para direcionar políticas públicas.
Às vésperas da COP30, que será realizada em Belém em 2025, o governo paraense busca demonstrar que é possível conciliar pecuária extensiva e preservação florestal. “Se o Pará provar que isso é viável, criaremos um efeito dominó positivo para toda a Amazônia”, concluiu Protázio.
Com informações de Forbes