Fóssil de Líquen de 410 Milhões de Anos É Confirmado

Pesquisadores de 19 instituições, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), identificaram com alto grau de precisão o Spongiophyton como o primeiro líquen conhecido a habitar a Terra, há cerca de 410 milhões de anos.

O achado, descrito na revista Science Advances, contou com participação de especialistas da Universidade de São Paulo (USP) e do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM). O estudo utilizou feixes de luz síncrotron e outras técnicas que permitiram visualizar estruturas internas em resolução de até 170 nanômetros.

Como o fóssil foi analisado

• Imagens em 3D revelaram possíveis estruturas reprodutivas, redes de hifas e células de algas, características típicas de liquens.
• Análises químicas registraram alta concentração de nitrogênio — indicativo de quitina, componente de fungos — e micropartículas de cálcio associadas à proteção solar em liquens atuais.
• A combinação de elementos descartou a hipótese de o material pertencer a plantas avasculares, compostas majoritariamente de celulose.

“Raramente se obtém uma evidência tão robusta”, afirmou o coautor Jochen Brocks, da Universidade Nacional da Austrália. Para Nathaly Archilha, do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), a integração de métodos tradicionais e de ponta foi decisiva para confirmar a natureza do organismo.

Origem e preservação

O fóssil foi coletado em 2021 pelo paleontólogo Bruno Becker-Kerber em uma pedreira de Rio Verde de Mato Grosso (MS). O material foi imediatamente embalado em papel-alumínio esterilizado para evitar contaminação, facilitando a detecção de biomarcadores moleculares.

Os resultados sugerem que os primeiros liquens surgiram em regiões frias do antigo supercontinente Gondwana, hoje correspondentes à América do Sul e à África, e tiveram papel fundamental na formação dos primeiros solos e na transição da vida da água para a terra.

Imagem: Julio Lacerda via canalrural.com.br

Ainda hoje, liquens dissolvem rochas e produzem biomassa utilizada por outros organismos, função que teria sido decisiva para o desenvolvimento de ecossistemas complexos, como florestas e campos.

Com informações de Canal Rural