Navio com 3 Mil Vacas Fica Dois Meses à Deriva

O navio Spiridon II, que transporta cerca de 3 mil vacas, navega sem destino certo desde 20 de setembro, quando deixou Montevidéu rumo ao porto de Bandırma, na Turquia. A embarcação permanece no mar há dois meses após autoridades turcas bloquearem o desembarque dos animais por falhas na documentação sanitária e irregularidades na identificação do gado.

Segundo relatório turco, 146 animais chegaram sem brincos ou com brincos ilegíveis, e outros 469 apresentavam marcas que não coincidiam com os registros de importação. Durante a travessia, foram registradas 48 mortes a bordo.

Organizações internacionais descrevem condições degradantes dentro do navio, citando mau cheiro, infestação de moscas, carcaças empilhadas e resíduos em decomposição. A Animal Welfare Foundation informou o nascimento de aproximadamente 140 bezerras no período, gerando preocupação sobre a sobrevivência dos filhotes em uma possível nova viagem.

A veterinária australiana Lynn Simpson advertiu para o risco sanitário causado pelo vazamento de fluidos das carcaças no convés. Segundo ela, a falta de alimentação adequada agrava o quadro.

Depois de semanas ancorado na Turquia, o Spiridon II deixou o país em 14 de novembro, atravessou o Estreito de Çanakkale e iniciou retorno ao Uruguai, onde deveria chegar em 14 de dezembro. A rota, porém, mudou: no sábado (22), o cargueiro atracou em Benghazi, na Líbia, e partiu nesta segunda-feira (24) com destino a Alexandria, no Egito, com previsão de chegada na quinta-feira (27).

A organização Mercy For Animals avalia que os bovinos podem ser comercializados no Egito, país que mantém acordo fitossanitário com o Uruguai para importação de gado vivo.

Imagem: Animal Welfare Foundation via canalrural.com.br

Casos semelhantes expõem problemas recorrentes em navios boiadeiros, como superlotação, infraestrutura precária e baixa fiscalização. Relatórios apontam impactos ambientais, mortes de animais e descarte irregular de carcaças no mar.

No Brasil, maior exportador mundial de animais vivos, dois projetos de lei — PLP 23/2024 e PL 786/2024 — avançam no Congresso com propostas de elevar a tributação e reforçar exigências sanitárias para o setor, impulsionados pela repercussão de episódios como o do Spiridon II.

Com informações de Canal Rural