Produtores Abandonam Arrendamentos no RS Após Enchentes
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Mais de um ano depois da enchente que atingiu o Rio Grande do Sul entre abril e maio de 2023, produtores rurais do estado seguem devolvendo áreas arrendadas e reduzindo o plantio. O desastre climático, que deixou mais de 180 mortos, agravou um ciclo de perdas provocado por excesso de chuva ou seca em seis das últimas sete safras de soja, segundo a Emater.
Redução de áreas plantadas
Em Cacequi, o produtor Lucas Scheffer relata que o agrônomo que atende sua família passou de 12 mil para 5 mil hectares acompanhados nesta safra porque vários clientes desistiram de semear. Ele próprio e o irmão, que cultivam exclusivamente terras arrendadas, cortaram a área de milho de 1.400 para 700 hectares e abandonaram todas as glebas reservadas apenas para soja.
Endividamento crescente
Scheffer afirma que a sequência de quebras de safra tornou a conta “impossível de fechar” diante dos juros e dos elevados custos de produção, considerados os maiores dos últimos cinco ou seis anos.
Em Júlio de Castilhos, Fernando Camargo cultiva cerca de 400 hectares — apenas 70 ou 80 próprios — e admite que deve abandonar a agricultura após a próxima colheita. O produtor pretende vender um imóvel para amortizar dívidas, dizendo que, nas condições atuais, “a atividade se tornou inviável”.
Riscos do arrendamento
O advogado Albenir Querubini, professor do Instituto Brasileiro de Direito do Agronegócio (IBDA), lembra que, no arrendamento, o produtor assume todos os riscos e deve pagar o valor acordado mesmo quando perde a safra. Ele destaca o artigo 473 do Código Civil, que permite ao arrendatário rescindir unilateralmente o contrato, sem multa, quando há fatores climáticos comprovados.
Querubini recomenda negociar antes de rescindir, seja para diminuir área, revisar o preço ou encerrar o vínculo, mas reforça que o direito à rescisão existe nas condições enfrentadas no estado.
Imagem: canalrural.com.br
Safra comprometida
Com o plantio de verão se aproximando, o presidente da Aprosoja-RS, Ireneu Orth, projeta nova queda nos arrendamentos e prevê que, mesmo com chuvas dentro da média, dificilmente o Rio Grande do Sul terá grande produção. Ele aponta dois obstáculos:
- parte dos produtores não pretende semear, principalmente em áreas arrendadas;
- quem for a campo deve reduzir insumos por falta de capital.
Crédito travado
Para Scheffer, o Plano Safra emperrou devido à inadimplência generalizada e à escassez de recursos. Situação semelhante vive a produtora Ana Debortoli, que, junto com o marido, vendeu máquinas e perdeu o carro da família para pagar dívidas. Ela relata ter passado um mês alimentando-se apenas de arroz e feijão, mas mantém a esperança de permanecer na atividade até que o cenário melhore.
Entre endividamento, custo elevado, preços baixos dos grãos e crédito restrito, muitos agricultores gaúchos veem como única saída reduzir áreas, renegociar contratos de arrendamento e aguardar melhores condições para quitar compromissos.
Com informações de Canal Rural