Produtores Abandonam Arrendamentos no RS
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Mais de doze meses depois da enchente registrada entre abril e maio de 2023, considerada a pior tragédia da história do Rio Grande do Sul, agricultores seguem deixando áreas arrendadas por falta de condições financeiras. O desastre climático que resultou em mais de 180 mortes foi o ponto final de uma série de adversidades que já pressionava a produção.
Quebras sucessivas e dívidas crescentes
Segundo a Emater, apenas a safra 2020/21 de soja escapou de perdas expressivas; as outras seis sofreram quebras provocadas ora por chuvas excessivas, ora por estiagens prolongadas. O resultado é um endividamento que produtores classificam como “quase impagável”.
Áreas encolhem no campo gaúcho
O produtor Lucas Scheffer, de Cacequi, relata que o agrônomo que assiste sua família acompanhava 12 mil hectares na temporada anterior, mas neste ciclo o número caiu para 5 mil hectares. Ele e o irmão, que cultivam apenas em terras arrendadas, reduziram a área de milho de 1.400 para 700 hectares e abandonaram todas as áreas dedicadas exclusivamente à soja.
“Somando juros e custos, a conta não fecha”, afirma Scheffer, lembrando que os gastos de produção estão entre os mais altos dos últimos anos.
Desistência à vista
Em Júlio de Castilhos, o produtor Fernando Camargo diz que pode deixar a atividade após a próxima safra. Ele cultiva cerca de 400 hectares, dos quais apenas 70 a 80 são próprios. “Se eu conseguir amortizar dívidas e vender um imóvel, saio da agricultura. Isso não é vida”, desabafa.
Arrendatário pode romper contrato
O advogado Albenir Querubini, professor do Instituto Brasileiro de Direito do Agronegócio (IBDA), lembra que o artigo 473 do Código Civil permite ao arrendatário rescindir o contrato unilateralmente sem penalidades quando há eventos climáticos comprovados. Mesmo assim, recomenda-se negociar redução de área, ajuste de preço ou encerramento amigável do acordo.
Imagem: canalrural.com.br
Perspectiva para a próxima safra
Com o plantio de verão se aproximando, o presidente da Aprosoja-RS, Ireneu Orth, projeta queda nos arrendamentos e colheita abaixo da média. Ele aponta dois obstáculos: clima ainda incerto e falta de recursos para custeio. “Muitos produtores não plantarão em áreas arrendadas; outros irão para o campo com insumos insuficientes”, afirma.
Crédito travado e sacrifícios
Para Scheffer, o Plano Safra está praticamente inacessível por causa da inadimplência e da escassez de recursos. A produtora Ana Debortoli vive situação semelhante: para quitar dívidas, vendeu máquinas e perdeu até o carro da família. “Já passamos um mês comendo só arroz e feijão, mas sigo firme para ajudar a família”, relata.
Sem perspectivas claras de alívio, muitos agricultores adotam a mesma estratégia: diminuir a área cultivada, renegociar valores de arrendamento e tentar resistir por mais alguns anos, esperando condições melhores para saldar compromissos.
Com informações de Canal Rural