Queda de Preço Corta 10% da Área de Arroz no RS

Enquanto o Brasil se prepara para mais uma safra recorde de grãos, o cultivo de arroz segue na direção contrária. Com o custo de produção estimado em cerca de R$ 90 por saca e o preço de mercado ao redor de R$ 50, produtores do Rio Grande do Sul — responsável por mais de 70% do arroz nacional — projetam redução de 10% na área plantada para a safra 2025/26.

Levantamento do Instituto Riograndense do Arroz (Irga) indica que pouco mais de 70% das lavouras gaúchas já foram semeadas, alcançando 640 mil hectares. A expectativa inicial era chegar a 920 mil hectares, abaixo dos 970 mil hectares cultivados no ciclo anterior.

O presidente da Associação dos Agricultores de Dom Pedrito, Edinho Fontoura, resume o cenário: “O produtor sabe que está pagando caro para trabalhar, mas não deixa de plantar porque é persistente”. Nos últimos cinco anos, o setor enfrentou quatro fortes estiagens e uma enchente expressiva.

Preços em queda

Segundo o Centro de Estudos e Pesquisas Aplicadas à Agricultura (Cepea), a saca de 50 quilos registrou média de R$ 58 em outubro, baixa de 6,2% em relação a setembro e de 51,4% ante igual período de 2024. No acumulado de 2025, a desvalorização nominal alcança 43,2%.

Impacto na produção

Na temporada passada, o Brasil colheu 12,8 milhões de toneladas, volume superior ao consumo interno estimado em 11 milhões. Para a próxima safra, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prevê queda de cerca de 10%, para 11,4 milhões de toneladas.

Com oferta elevada e preços baixos, as exportações podem avançar 31%, chegando a 2,1 milhões de toneladas. O grão brasileiro tem sido enviado principalmente a Senegal, Gâmbia, Cuba e Peru. Já as importações devem permanecer em torno de 1,4 milhão de toneladas, vindas sobretudo de Argentina, Paraguai e Uruguai.

Ações de mercado e governo

Para conter os efeitos da sobreoferta, o governo federal investiu R$ 300 milhões na compra de 200 mil toneladas do cereal, elevando seus estoques. Ao mesmo tempo, a Associação Brasileira da Indústria de Arroz (Abiarroz) lançou, em 27 de outubro, a campanha “Arroz Combina”, voltada à valorização do consumo interno.

Imagem: Erasmo Pereira via canalrural.com.br

Em frente externa, o projeto Brazilian Rice, desenvolvido com a ApexBrasil, busca novos compradores por meio de feiras e missões em países como México, Nigéria e Arábia Saudita. O setor também marcou presença na US Private Label Trade Show, nos Estados Unidos.

Novos usos do grão

Além da alimentação, o arroz ganha espaço em projetos de bioenergia. De acordo com o presidente do Irga, Eduardo Bonotto, o cereal pode integrar a cadeia de etanol de grãos, ao lado de milho e trigo. Subprodutos como casca e farelo já são empregados na geração de energia e produção de biodiesel em diversas plantas gaúchas.

Para produtores como Arno Walter Lausch, de Maçambará, que cultiva 1,2 mil hectares e investiu em irrigação de alta tecnologia, a expectativa é de reação nos preços até a colheita: “O arroz melhora o solo para soja e milho. Precisamos que o mercado reconheça esse valor”.

Com informações de Canal Rural