Tarifa dos EUA freia mel orgânico e setor aposta no consumo interno

Quase 80% do mel produzido no Brasil segue para os Estados Unidos, mas a tarifa de 50% aplicada recentemente às importações brasileiras praticamente paralisou esse fluxo. A medida, que não incluiu o mel na lista de exceções — onde estão itens como suco de laranja e castanhas —, levou importadores norte-americanos a suspender contratos em aberto e travar novos embarques.

O alerta é de João Messas, diretor-executivo da exportadora Apidouro. Segundo ele, a sobretaxa ameaça a competitividade do produto nacional, sobretudo dos pequenos apicultores.

Certificação limita alternativa europeia

A possibilidade de direcionar parte da produção para a União Europeia, segundo maior destino do mel brasileiro, esbarra em exigências técnicas. A maior fração do mel do país possui o selo orgânico NOP, concedido pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). Essa certificação não é reconhecida como equivalente ao selo CE, exigido pelo bloco europeu.

“Ficamos restritos a países que aceitam o NOP”, explica Messas. Entre eles está o Canadá, mercado que o setor tenta ampliar.

Estratégia: ampliar vendas domésticas

No Brasil, o consumo per capita é de apenas 50 gramas ao ano, muito abaixo de 1 kg a 1,2 kg registrado em Estados Unidos e Europa. Para reduzir a dependência externa, a Apidouro firmou parcerias com grandes envasadoras, como a Baldoni, visando escoar a produção no mercado interno.

Imagem: Divulgação Sebrae via canalrural.com.br

Impacto nos preços e renda dos produtores

Com a queda na demanda dos EUA e produção contínua, a oferta interna tende a subir, pressionando o preço pago ao produtor. A situação afeta principalmente estados do Nordeste — Bahia, Ceará, Piauí, Maranhão e Rio Grande do Norte — onde a apicultura é atividade de subsistência. “São milhares de famílias que dependem dessa renda”, afirma Messas.

Setor busca revisão da tarifa

Empresas brasileiras, em conjunto com importadores norte-americanos, contrataram advogados nos EUA para tentar incluir o mel orgânico na lista de exclusões da sobretaxa. Enquanto isso, existe o temor de perda de espaço nas gôndolas: diante de preços mais altos, consumidores podem migrar para mel convencional, de menor valor agregado.

Com informações de Canal Rural